Brumadinho: vítimas processam Vale e cobram MP sobre fim de benefício
Atingidos tentam reverter fim do Programa de Transferência de Renda

Moradores atingidos pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019, intensificaram seus protestos contra a redução de 50% no Programa de Transferência de Renda (PTR), benefício instituído como parte do acordo global de reparação.
A medida, que reduziu o repasse para adultos a R$ 379,50 mensais (um quarto do salário mínimo), gerou indignação e levou os atingidos a buscarem judicialmente a manutenção dos valores originais.
Em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) há duas semanas, Patrícia Passarela, moradora da comunidade de Taquaras, questionou as autoridades sobre a insuficiência do valor para cobrir necessidades básicas como alimentação, água, luz e internet, essencial para se manterem informados sobre as decisões relacionadas à reparação.
O PTR, que chegou a atender mais de 150 mil pessoas, foi criado em 2021 como substituto do auxílio emergencial inicial, com um aporte de R$ 4,4 bilhões, gerido pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
A previsão é que o programa seja encerrado em abril de 2026, mas o corte de 50% nos valores a partir de março deste ano motivou uma ação judicial contra a Vale, na qual os atingidos, representados por associações, exigem que a mineradora garanta os recursos necessários para manter o PTR sem redução.
Os atingidos argumentam que o PTR foi concebido para vigorar paralelamente a programas de reparação que visassem restabelecer as atividades econômicas das comunidades afetadas.
No entanto, mais de quatro anos após o acordo global, esses projetos ainda não foram implementados, e a contaminação do Rio Paraopeba impede a retomada segura de atividades como a pesca.
Outro ponto levantado pelos atingidos é a Lei Federal 14.755/2023 (Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens - PNAB), que garante auxílio emergencial até que as famílias alcancem condições de vida equivalentes às anteriores ao desastre.
Eles consideram que o corte no PTR antes da conclusão das medidas reparatórias viola essa legislação.
Em nota, a Vale informou que não foi intimada da ação judicial e sustenta que o PTR foi estabelecido no acordo global como solução definitiva para os pagamentos emergenciais, com a empresa tendo cumprido sua parte ao depositar os R$ 4,4 bilhões previstos.
A mineradora afirma não participar da gestão dos recursos, que é de responsabilidade das instituições de Justiça (MPMG, MPF e DPMG) e gerenciada pela FGV.
Os atingidos também cobram mais transparência das instituições de Justiça em relação à gestão do PTR pela FGV.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) se comprometeu a formular respostas para as questões levantadas em audiência pública até a próxima sexta-feira, 28.
A questão do PTR também foi pauta durante o lançamento do Núcleo de Acompanhamento de Reparações por Desastres (Nucard) do MPMG nesta segunda-feira, 24, com representantes dos atingidos reiterando a insuficiência do acordo de reparação.
Qual é a sua reação?






