Brumadinho - Liberdade
A chef Carmelita Chaves assina a coluna "Fala, Carmelita", onde através de crônicas, nos apresenta histórias e curiosidades sobre a vida em Brumadinho e região.

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”
Clarice Lispector
Ao chegarmos à comunidade quilombola de Ribeirão, em Brumadinho, fomos recebidos por um casal encantador, que nos acolheu com sorrisos largos e uma alegria vibrante.
Sentamo-nos em um banco de madeira antiga, na varanda de sua casa. Um frescor agradável vinha da brisa que soprava da mata densa que cercava o povoado.
O rapaz, forte, permaneceu de pé sem perceber, transmitindo um espírito livre, de quem vive em plenitude.
A moça, linda, com seus cabelos adornados por trancinhas, irradiava brilho tanto na aparência quanto na alma. Ela trouxe uma jarra de água tão gelada que as gotas escorriam pela superfície. Respirei fundo, absorvendo aquela atmosfera tão agradável.
A conversa fluía leve, entre risos e histórias.
As comunidades quilombolas carregam uma herança histórica de nosso município, que remonta aos tempos dos bandeirantes.
Era um povo que foi libertado, não apenas da escravidão do trabalho forçado, mas também da escravidão existencial, da opressão e das condições sub-humanas.
Falamos sobre sua rica herança cultural e as tradições preservadas ao longo dos anos. Os quilombos de Rodrigues, Marinhos, Sapé e Ribeirão estão entre os mais conhecidos.
Hoje, esse é um povo verdadeiramente livre, no sentido de administrar sua própria existência, praticar sua cultura e manter vivas suas tradições.
Seus festejos são vibrantes, com apresentações de músicas e danças afro-brasileiras que honram seus ancestrais. O artesanato é uma expressão autêntica da alma quilombola.
A culinária, por sua vez, é rica e diversificada. No Quilombo do Sapé, destaca-se o “João Deitado”, uma iguaria feita de fubá e assada em folhas de bananeira.
No Quilombo de Ribeirão, a feijoada preparada com produtos orgânicos locais é um prato tradicional. Já no Quilombo de Rodrigues, oficinas de xequerê ensinam os visitantes a confeccionar e tocar esse instrumento de percussão tradicional.
No Quilombo de Marinhos, destaca-se o artesanato, em especial as lindas bonecas “Maria do Quilombo”. Elas são mais do que objetos: são testemunhas de uma história de resistência e um convite a se conectar com as raízes de um Brasil profundo e vibrante.
Durante o Natal e o Ano Novo, as festividades são marcadas por encontros comunitários. A música, a dança e a culinária tradicional assumem papéis centrais, fortalecendo os laços entre os moradores e celebrando a vida.
A escravidão sempre esteve presente na história da humanidade, em todos os povos e em todos os cantos do planeta.
A trajetória humana parece moldada por conquistas e pela escravidão de povos subjugados. Ainda hoje, a escravidão persiste, embora em formas diferentes: tráfico humano, exploração sexual, alienação e o incentivo à ignorância são apenas algumas de suas faces modernas.
No final, todos nós buscamos a liberdade e tentamos entender o que significa ser verdadeiramente livres.
Penso que a liberdade não pertence a este mundo. Ela transcende religião e educação. Está na imaginação, no sonho de superar nossas próprias limitações.
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* Carmelita Chaves é publicitária, escritora e restaurateur
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