Brumadinho - Folclore
A chef Carmelita Chaves assina a coluna "Fala, Carmelita", onde através de crônicas, nos apresenta histórias e curiosidades sobre a vida em Brumadinho e região.

“O riso é uma ejaculação repentina de alegria.”
Rubem Alves
Lá estava eu, no meio de um pequeno grupo de pessoas: algumas observando, outras dançando e cantando, todas rindo. Riam muito e batiam palmas no ritmo das violas, sanfonas e das vozes de homens cantando músicas cujas letras eu tinha dificuldade de entender.
Minha alma tímida, de repente, começou a dançar, rir e encarar o palhaço de máscaras e roupas marroquinas.
Deixei-me levar pelo impulso de caminhar junto, cantando apenas os finais das frases. Estava gostando de estar ali; sentia, naquele momento, a liberdade vinda de minha vida mais primitiva.
Aquilo era folclore, das mais praticadas em Brumadinho. Estávamos em Piedade do Paraopeba, e a Folia de Reis celebrava o nascimento de Jesus e a visita dos Reis Magos.
O cortejo seguia de casa em casa, abençoando os moradores e coletando donativos. Que folia! Que delícia!
Sentia um tremor dentro de mim; a beleza antiga ainda sobrevive, surpreendendo o mundo cibernético, o mundo digital, de gente insaciável, sempre correndo para se superar e, do nada, morrer, sem saber o sentido de estar aqui.
Correm para o progresso, para o futuro, e não têm tempo para olhar o passado, suas origens e o sentido de tudo.
Opa! Tinha que parar de sentir, tinha que parar de me punir secretamente pela humanidade, tinha que perdoar.
Ficar de fora, observando o que ainda nos restava de um pé no passado? Era só isso. Então o mundo estava manco; tinha que haver mais.
Aí descobri o outro pé do meu mundo, algo mais para resguardar nossa história: havia o Congado, que também é uma manifestação cultural e religiosa muito praticada no município de Brumadinho.
Há a famosa Guarda de Congo e Moçambique no Quilombo do Sapé e a Festa de Congado em Aranha. Essa tradição combina elementos do catolicismo e da cultura afro-brasileira.
Também há cortejos, músicas e danças, agora para homenagear principalmente Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, considerados pelos povos oprimidos seus protetores e libertadores.
Além dessas festas folclóricas mais enraizadas no município, há ainda danças típicas como o Cateretê e o Jongo, e as famosas quadrilhas da comunidade quilombola do Sapé.
Essas manifestações, além de preservarem a memória cultural e as tradições, mantêm vivo o sentimento de pertencimento e identidade entre os moradores das várias comunidades de Brumadinho.
Uma música distante vinha do lado de fora. Corri e permaneci ali, entre as hortênsias, visitando de novo aquilo que minha memória guardou.
Senti frio, não era só meus olhos que estavam molhados; era uma nuvem que chorava e interrompeu meus devaneios.
* Carmelita Chaves é publicitária, escritora e restaurateur
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