Voo Livre - Serra da Moeda
A chef Carmelita Chaves assina a coluna "Fala, Carmelita", onde através de crônicas, nos apresenta histórias e curiosidades sobre a vida em Brumadinho e região.

“Voar, Voar
Subir, Subir”
(Byafra)
Você já acordou algum dia, abriu a janela ou a cortina e viu um céu azul pintado por algumas nuvens bem brancas?
Não lhe deu uma vontade estranha de voar como aquelas pequenas aves, planando com suas asas e, às vezes, inclinando-se para um lado ou para o outro? Dominando o céu em pleno acordo com o vento, que influencia o movimento lento das nuvens?
Sim, eu já senti isso. E, em um desses dias, resolvi descobrir como funcionava e testar a minha coragem.
Pegamos o carro, eu e meu esposo, subimos a BR-040 no sentido Rio de Janeiro.
Passamos pelo trevo de Ouro Preto e, logo à frente, avistamos nosso destino: a Serra da Moeda. Um pico coberto por vegetação rasteira.
Subimos uma estrada curta e cheia de curvas. Mesmo antes de começarmos a subida, já podíamos ver vários “pássaros humanos” voando, com asas arqueadas e coloridas.
Ao chegar, vimos um grupo de jovens. Alguns estavam em pé, outros sentados, rodeados por cordas e equipamentos. Todos prestavam atenção ao instrutor de voo.
Passamos por eles e continuamos subindo até o ponto mais alto da montanha. Foi quando olhamos para o horizonte mais amplo que já havíamos visto, colorido pelos vários parapentes brincando de ir e vir, descer e subir. Ficamos ali um tempo, contemplando, hipnotizados por aquela cena que parecia saída de um filme.
Mas, ao mudarmos o foco do olhar para baixo, a sensação foi completamente diferente. A montanha revelava uma profundidade abismal. Era a própria dicotomia: a grandiosidade de um horizonte infinito e, ao mesmo tempo, a inquietude de encarar um abismo.
Depois descobrimos que a Serra da Moeda tem altitudes que variam entre 1.500 e 1.700 metros acima do nível do mar.
Era perturbador. Eu sentia coisas estranhas, como se estivesse planando como as aves, entre aquele céu claro e o abismo escuro.
A sensação era que aquilo não poderia durar. Foi quando percebi que o que sentia não era apenas o desejo de voar, mas algo muito mais profundo.
Que pessoas corajosas! Conversamos um bom tempo com o responsável e instrutor de voo livre na Serra da Moeda, um rapaz simpático e muito experiente chamado Glayson. Ele foi extremamente paciente com nossa curiosidade e respondeu a todas as perguntas que tínhamos levado nos bolsos.
Glayson nos deu uma verdadeira aula: falou sobre segurança, como aproveitar as correntes de ar, as técnicas de pilotagem e a sensação indescritível de estar em conexão com a natureza.
Ele explicou que voar proporciona uma liberdade única e um sentimento de se tornar um com o vento, quase como um pássaro.
Mas, vou ser sincera: não tive coragem de aceitar o convite para uma demonstração. Só de pensar que meus pés não estariam ao alcance do chão, minha adrenalina já estava nas nuvens. Meu esposo, no entanto, é diferente. Ficou muito entusiasmado!
Foi uma delícia de passeio. Mesmo sem voar, a experiência valeu a pena. O lugar é lindo, a paisagem é arrebatadora, e a energia é única.
Observar os preparativos dos voos, as decolagens e saber que aqueles “corajosos” estão bem acima de nós, observando um Brumadinho que jamais veremos do chão, é algo inspirador.
Se puder, vá até lá e converse com o Glayson. Se você não for como eu, pode viver algo verdadeiramente único.
Este município é uma caixinha de surpresas, com lugares encantadores e muitas histórias para contar. Vocês ainda vão descobrir o quanto Brumadinho faz parte da história do nosso país.
Ah, e não é só beleza natural, não. Aqui também tem muita riqueza cultural e histórica. Vai me acompanhando e você saberá mais sobre este lugar mágico que os bandeirantes tiveram o privilégio de conhecer há séculos.
* Carmelita Chaves é publicitária, escritora e restaurateur
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