Brumadinho: eu e você
A chef Carmelita Chaves assina a coluna "Fala, Carmelita", onde através de crônicas, nos apresenta histórias e curiosidades sobre a vida em Brumadinho e região.

Hoje não vou falar de Brumadinho, mas sobre uma das coisas boas que este lugar me inspirou: falar sobre nós mesmos.
“O amor é a única prova concreta da existência do ser humano.”
“Hans sentia-se um ser humano imperfeito, cheio de contradições, conflitos e derrotas. Como todo mundo, na verdade.
Mas ele achava que não, que tais desconfortos eram só dele, como se a infelicidade o perseguisse. Não via as possibilidades que a vida ainda lhe oferecia.
Deprimido, afastou-se de si mesmo e dos outros. Começou a difamar aqueles que amava para justificar a distância.
Fechou-se em seu quarto, um espaço elegante, mas frio, onde passava dias entre o sono e a insônia, olhando o teto e os feixes de luz atravessando a persiana.
Quando voltava da terapia, duas vezes por semana, mal tirava a roupa. Fatigado, magoado, sem ânimo, vivia cercado por roupas amontoadas e pensamentos vazios.
Com o tempo, superou a depressão, mas não se livrou de uma tristeza íntima que corroía todo entusiasmo por pessoas ou coisas.
Voltou a trabalhar, a ler, a assistir a filmes, mas tudo isso era apenas uma forma de fugir do tédio, e não um verdadeiro prazer.
A vida parecia uma soma de rotinas, até que Helena chegou. Com ela, uma alvorada multicolorida passou a raiar no seu céu.”
Este é um trecho de meu primeiro romance, “Nunca Mais”, lançado na Academia Mineira de Letras, em 2009. Meu editor o classificou como romance psicológico, algo que me surpreendeu, pois não escrevi com essa intenção.
Confesso: meus personagens não são fáceis. Hans oscila entre a depressão e momentos de paz.
Zé Otávio, o andarilho incendiário, é o mais mítico, mas também o único real. Ele foi um tio de minha mãe, considerado louco pelos adultos, mas visto como mago pelas crianças.
Escrever é isso: mergulhar na alma de cada personagem, flertar com seus dilemas. Talvez por isso meu texto cause certo espanto, pois toca em algo que nos é essencial: a vida humana, feita de relacionamentos que mexem com nossos sentidos, cultura, moral e ética.
No fim, tudo depende de nossa vontade. A vontade de viver e de vencer nossos próprios desafios e nossas escolhas.
* Carmelita Chaves é publicitária, escritora e restaurateur
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