Brumadinho na Trilha dos Bandeirantes
A chef Carmelita Chaves assina a coluna "Fala, Carmelita", onde através de crônicas, nos apresenta histórias e curiosidades sobre a vida em Brumadinho e região.

Por anos, desde que me formei em Sociologia, a história foi uma das matérias mais importantes do curso e a que mais me fascinava. Sempre fiquei - e ainda fico - vagando pelos pensamentos sobre as civilizações antigas.
Na história do Brasil, os bandeirantes sempre foram, para mim, os mais enigmáticos, pois eu queria entender o que os motivava a entrar em selvas e sertões jamais vistos ou visitados por seres “civilizados”.
Pois não é que hoje moro em um dos primeiros lugares por onde esses desbravadores passaram!
Pasmem: Casa Branca e Piedade do Paraopeba foram os primeiros assentamentos dos bandeirantes (1674), usados como pontos de abastecimento das tropas e dos mineradores de toda a região, inclusive Ouro Preto e Mariana.
Matriz de Nossa Senhora de Piedade e Igreja Nossa Senhora do Rosário (Piedade)
Piedade é considerado o distrito mais antigo, anterior até às cidades históricas mais famosas de Minas Gerais.
Para falar dessa época, aprendi a me aproximar da história sem tocá-la. Aprendi a imaginar como seriam as coisas e as pessoas antes de nos tornarmos a humanidade como a conhecemos.
Se não houvesse humanos na Terra, o planeta seria apenas uma repetição de ciclos: coisas ensopando e secando, ardendo ao sol ou congelando, envolvidas pelos ventos em todas as direções e cobertas de poeira. Então, sei lá…
Ainda me pergunto: será que aquelas pessoas pensavam na morte? O que significava a vida naqueles tempos de cortar mato com o facão, dormir ao relento, comer o que caçavam e beber a água da chuva? Será que o que chamavam de morte os atraía tanto quanto o ouro que tanto procuravam?
A bandeira de Fernão Dias Paes Leme chegou a essas terras no final do século XVII, ocupando o Vale do Paraopeba.
Daí surgiram os povoados de Piedade do Paraopeba, Aranha, São José e Brumado do Paraopeba. Bem depois, veio Brumadinho, sede do município hoje, cujo nome originou-se das muitas brumas que até hoje cobrem todo o vale.
A Matriz de Nossa Senhora da Piedade (pré-barroca) foi construída pelos bandeirantes em 1713, sendo uma das mais antigas de Minas Gerais.
Fazenda dos Martins/Brumadinho
A imagem original do altar principal, segundo contos locais, foi doada por Bárbara Heliodora, esposa do inconfidente Inácio José de Alvarenga Peixoto.
Outra igreja, bem menor e localizada perto da matriz, é a de Nossa Senhora do Rosário, construída pelos escravizados. Ela oferece uma ampla vista da região de Piedade e é palco de várias festas e festivais folclóricos.
Seguindo as trilhas dos bandeirantes, encontramos um imponente casarão: a Fazenda dos Martins, uma das mais antigas fazendas do estado. Dizem que lá existe - ou existia - uma capela revestida de ouro.
Esse foi um importante ponto de comércio de escravizados, e dali surgiram quatro quilombos na região. Segundo relatos locais, a fazenda teria pertencido ao genro de Fernão Dias.
Vendo a construção de fora (pois não pude entrar), dei uma volta até onde tive acesso e pensei: aquele lugar deveria ser tombado e transformado em um monumento aos escravizados que tanto serviram aos senhores da época.
De repente, senti um olhar vindo de dentro do casarão. Arrepiei-me e me afastei para perto do carro. Meu esposo perguntou o que havia, pois eu estava pálida.
Disse que não sabia. Na verdade, era uma visão das dores que aqueles lugares representam. A vertigem foi breve, mas me alertou sobre não chegar tão perto de um passado que, só de pensar no que foi, já nos aflige.
Bom, em outro momento conto para vocês as histórias dos quilombos e dos quilombolas. Vão me acompanhando por aqui. Se gostou, dê o Like e compartilhe!
* Carmelita Chaves é publicitária, escritora e restaurateur
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