Ângela Vasconcelos – destaque em um universo predominantemente masculino

Na coluna Na Garupa com o Tunico, crônicas sobre estradas, histórias e destinos mineiros. Uma visão pela alma e pelo coração do Tunico, sobre as experiências que se pode sentir sobre duas ou quatro rodas

Abr 4, 2025 - 17:06
Abr 4, 2025 - 19:55
Ângela Vasconcelos – destaque em um universo predominantemente masculino

Estamos no início de abril e, com a crônica de hoje, quero encerrar uma série de homenagens às mulheres que fiz ao longo de março.

Ainda bem que sobraram várias para o próximo ano, pois são muitas as que merecem esse reconhecimento! Claro que, ao longo do ano, outras também serão citadas. 

Nesta semana, quero trazer para minha garupa uma mulher que não vem do meu universo da motocicleta, mas que, desde a pandemia, adotou Brumadinho de verdade.

Ângela Vasconcelos já frequentava a região há muito tempo, como tantos sitiantes de fim de semana, indo e vindo sem um vínculo real com a comunidade.

Mas a permanência forçada durante a pandemia fez essa mãe de dois jovens rapazes de 10 e 14 anos mudar sua percepção.

Ela enxergou a oportunidade de antecipar um sonho: viver com mais qualidade de vida. Assim, junto ao marido, transformou sua casa de campo neste período em sua residência principal, escolhendo um dos melhores condomínios em Casa Branca.

Hoje eles vêm todos os finais de semana para o condomínio. Foi uma decisão acertada, permitindo que desacelerassem e desfrutassem de um cotidiano menos estressante, mesmo com sua intensa trajetória profissional na mineração. 

Posso confidenciar que uma das melhores partes de ter um restaurante no campo é conhecer bem os clientes e, muitas vezes, torná-los amigos.

Foi assim com Ângela, que, com sua família, tornou-se presença constante no Abóbora. E cada encontro se transformou em uma troca rica de experiências, especialmente sobre mineração, um tema inevitável para quem vive em Brumadinho.

Ângela Vasconcelos tem 20 anos de experiência no setor e construiu sua carreira na Equinox Gold, uma mineradora canadense que opera no Brasil, com presença em Minas Gerais, na Bahia e Maranhão.

Atualmente, ela ocupa o cargo de Vice-presidente de Finanças e Administração. Para se ter uma ideia do impacto dessa empresa, a Equinox tem uma operação em Minas Gerais -Riacho dos Machados (RDM), 2 na Bahia – Fazenda Brasileiro e Santa Luz e uma no Maranhão – Mineração Aurizona.

Em 2024, a mineradora anunciou um investimento de R$ 75 milhões para implementar a deposição de rejeitos a seco, eliminando a atual barragem de rejeitos, em conformidade com a legislação brasileira.

Além disso, a produção da mina aumentou 60% em 2023, gerando um crescimento significativo na arrecadação de tributos para os municípios onde opera e agora com a recente aquisição da Calibre Mining, a Equinox planeja produzir globalmente quase 950 mil onças de ouro em 2025 e 2026 podendo chegar a quase 1.4 milhões de onças de ouro por ano, com custos totais sustentáveis (AISC) entre US$ 1.880 e US$ 1.980 por onça.

Porém, o destaque da atuação de Ângela vai além da gestão financeira. Ela tem trabalhado ativamente no programa de diversidade e inclusão da Equinox, promovendo a inserção de grupos minoritários, com foco no aumento da participação feminina na mineração.

Quando iniciaram o programa, as mulheres representavam apenas 10% do quadro da empresa. Hoje, esse número subiu para 14%, com a meta de alcançar 25% até 2030.

Como parte da estratégia, ela sugeriu uma competição saudável entre as quatro operações da empresa no Brasil, premiando os líderes que mais incentivassem a inclusão de mulheres em suas equipes.

Em 2024, a operação vencedora foi a Fazenda Brasileiro, na Bahia, onde o gerente de planta, Alexandre Freiras, foi reconhecido como o líder mais inclusivo. Um caso inspirador dessa iniciativa é o de Maria das Graças, que trabalhou por anos na limpeza e, por meio do programa interno de formação, candidatou-se para auxiliar de mecânica na planta de tratamento.

Durante seis meses, conciliou o trabalho com os estudos técnicos e, ao final, foi aprovada e promovida. A história de Maria é um exemplo vivo de transformação e oportunidade.

São ações como essa que fazem acreditar que a sororidade real acontece quando promovemos o crescimento e a inserção de mais mulheres na mineração, um setor onde os homens ainda representam 77% da força de trabalho.

Ainda há desafios, como apontado pelo relatório Women in Mining Brasil (WIM Brasil), que destaca a necessidade de mudanças estruturais para garantir ambientes mais inclusivos.

Apenas 28% das mulheres elegíveis utilizam integralmente a licença parental, indicando barreiras institucionais e culturais que precisam ser superadas.

Embora os números específicos de Minas Gerais não estejam disponíveis, é possível inferir que o estado acompanha essa realidade nacional. 

A implementação de políticas de equidade e o monitoramento desses avanços são essenciais para que mais mulheres alcancem cargos estratégicos no setor.

Como a própria Ângela afirma: “Nosso lugar é onde quisermos estar!”

Mais uma mulher para admirarmos.

* Tunico Caldeira é publicitário, gestor cultural, professor e artista plástico

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