Marco Zero da Rota Capitão Senra - Macacos

Na coluna Na Garupa com o Tunico, crônicas sobre estradas, histórias e destinos mineiros. Uma visão pela alma e pelo coração do Tunico, sobre as experiências que se pode sentir sobre duas ou quatro rodas.

Fev 7, 2025 - 15:08
Fev 7, 2025 - 15:09
Marco Zero da Rota Capitão Senra - Macacos

Para quem está presente na minha garupa, acompanhando as histórias, deve estar se perguntando por que não dei continuidade ao Marco Zero da Rota Capitão Senra, no Inhotim e não falei na semana seguinte do Marco Zero em Macacos.

Espero que entendam: eu não podia deixar passar a inauguração do Memorial Brumadinho. Hoje sigo na Rota em direção ao Marco Zero em São Sebastião das Águas Claras.

Origem e História de Macacos:  
São Sebastião das Águas Claras, popularmente conhecido como Macacos, é um distrito de Nova Lima, Minas Gerais. Sua origem remonta ao século XVIII, ligada às expedições dos bandeirantes Fernão Dias e Borba Gato, que exploraram a região em busca de ouro.

A abundância de minério e a presença de cursos d'água, como o ribeirão dos Macacos e o córrego dos Feixos, contribuíram para o surgimento do arraial e popularizar o seu nome. 

Ir e vir, para nós das duas rodas, é um prazer. Nos interessa mais o percurso do que o destino, pois este é apenas a consequência do que nos move.

As justificativas para a Rota ter seu início em Macacos estão no texto publicado aqui no dia 03/01/2025.

Começar a Rota por Brumadinho no Inhotim tem um ar lúdico, mesmo sendo uma abstração minha, mas que tem um significado que podemos definir como uma coincidência histórica, pois todos nós fazemos, sem saber, seguindo três séculos depois, os passos de Fernão Dias e Borba Gato.

O segundo Marco Zero que que é em macacos já tem um fator afetivo. Os 140 km da Rota Capitão Senra pelo lado de Macacos têm um significado emocional para nós motociclistas.

São no mínimo três gerações que começaram suas aventuras Off Road por ali. Eu comecei com 19 anos, na minha fase mais imortal dentro do motociclismo, no início da década de 80.

Meu primeiro dia de moto, ainda sem habilitação, me aventurei a conhecer o point mais badalado da época: o Bar do Marcinho.

Moto mais alta do que minhas pequenas pernas poderiam tocar o solo. Cheguei todo equipado, roupa novinha, se destacando no bar lotado, por estar totalmente limpa.

Ao baixar o descanso pela primeira vez, o arco feito pela minha perna não foi suficiente para o descanso ser todo aberto e apoiar a moto no solo. Cai igual a uma folha de papel. Na frente de todos.

Após me estatelar no chão ouvi um comentário: “Quem está com esse palhaço?” Levanta ele aí! – Sentia meu rosto ferver de vergonha.

 A sorte era estar de capacete com viseira escura e fechado, assim como a minha boca, para não me denunciar pela minha voz.

Tomei um refrigerante gelado com o canudinho entrando por baixo do queijo do capacete. Foi muito ridículo, mas virou história e a minha memória deste importante dia. 

Origem do Bar:  Ele foi fundado por Marcinho e seu pai, Seu João, que anos depois também criou a Pousada do Seu João.

Se você perguntar o sobrenome dos dois, irá escutar: “Do bar do Marcinho”. São conhecidos assim a bem mais de 30 anos. Um verdadeiro legado.

Eles tiveram a ideia de montar um humilde restaurante para atender os motociclistas que frequentavam a região, contando com a ajuda desses próprios frequentadores.

Assim nasceu o Bar, que se tornou um ponto de encontro tradicional para motociclistas e amantes de trilhas, de moto ou Jipe. 

Todos da minha geração, que não tinham motos de velocidade, iniciaram suas carreiras sobre duas rodas frequentando este local. Na época, era mágico.

Como falei no início do texto, o que nos movia era a aventura do percurso. Não existiam estradas asfaltadas, apenas terra e muita lama.

Tudo o que a gente mais queria. Iniciávamos ou terminávamos no Marcinho, mas passar por lá era obrigatório.

Uma sequência natural: a Pousada do Seu João: A pousada, fundada por Seu João, foi uma grande sacada, pois oferece chalés individuais em meio à natureza, proporcionando privacidade e conforto aos hóspedes.

No início, a galera que ia em grupos de moto buscava aventura e viajava solo, pois na maioria das motos não dava para levar garupa.

Mas depois, voltar acompanhado e fazer média garantiam algumas estrelas positivas no relacionamento. 
Impacto das Atividades da Vale no Território:

Em fevereiro de 2019, a barragem B3/B4 da Mina Mar Azul, operada pela Vale e localizada próxima a Macacos, apresentou risco de rompimento, levando à evacuação de cerca de 300 moradores.

A estrutura foi elevada ao nível máximo de emergência, causando apreensão na comunidade local. Eu, particularmente, acreditava que essas barragens romperiam antes da B1 do Córrego do Feijão.

Em maio de 2024, a Vale anunciou a descaracterização da barragem B3/B4, afirmando que a estrutura não representa mais risco às comunidades e ao meio ambiente.

Em 25 de maio de 2024, foi inaugurado o totem da Rota Capitão Senra no Bar do Marcinho, consolidando-o como um ponto de parada oficial para motociclistas que percorrem a rota.

Com isso, espera-se que o turismo na região, uma das principais atividades econômicas de Macacos, seja retomado com mais vigor. 

Todos da minha geração, que frequentavam e ainda frequentam o Bar do Marcinho, têm um carinho muito grande por ele e pelo local.

Pelas memórias, pelo acervo do seu museu, que é uma homenagem a todos nós. Marcinho trabalhou muito, se dedicou em um tempo em que ninguém nos valorizava.

Um tempo em que andávamos sujos de terra, com pouco dinheiro, pagando faculdade, gasolina, pensando em montar casa, casar e nos aventurar audaciosamente, indo onde nenhum outro veículo jamais esteve.

A Rota Capitão Senra é uma rota de mototurismo que hoje passa por diversos pontos de interesse em Nova Lima e Brumadinho, acolhendo e tratando bem os motociclistas ao longo da Rota, promovendo o mototurismo na região.

Se você não conhece vale a pena, se conhece, vem ter boas lembranças.
• Alameda Seu João, s/n – Parque do Engenho, Nova Lima - MG, CEP: 34009-100.

* Tunico Caldeira é publicitário, gestor cultural, professor e artista plástico

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