Natal Solidário.em Brumadinho

Na coluna Na Garupa com o Tunico, crônicas sobre estradas, histórias e destinos mineiros. Uma visão pela alma e pelo coração do Tunico, sobre as experiências que se pode sentir sobre duas ou quatro rodas.

Dez 13, 2024 - 14:04
Dez 16, 2024 - 13:13
Natal Solidário.em Brumadinho

Em 2019, a tragédia do rompimento da Barragem B1, no Córrego do Feijão, abalou profundamente nossa comunidade, trazendo à tona a fragilidade da vida e a força da resiliência humana.

No entanto, mesmo diante do sofrimento, vimos as famílias celebrarem o Natal de uma maneira que considero a mais correta.

Não foi apenas uma data de confraternização, mas um momento para homenagear o verdadeiro significado do Nascimento de Jesus.

Foi um Natal de reflexões profundas, em que pensamentos e orações se voltaram para o essencial. Não havia espaço para excessos ou superficialidades.

Em meio à dor, muitos renovaram a esperança de que, por meio do amor e da fraternidade, poderíamos transformar nossa realidade.

O Natal se tornou, para nós, um símbolo de união e de um futuro melhor para as novas gerações, que precisam crescer em um ambiente onde esses valores sejam vividos e compartilhados.

As crianças, apesar de não terem o Natal que esperavam, compreenderam a importância do luto e do comprometimento com os familiares e amigos.

Já em 2020, com a pandemia de Covid-19, a situação se agravou ainda mais: sem escolas e sem correios funcionando, o Natal para essas crianças parecia impossível.

Buscamos, então, uma solução dentro de nossas possibilidades. Reunimos líderes comunitários e, para organizar nossa proposta, solicitamos que cada um obtivesse a lista das crianças matriculadas na Escola de Casa Branca, além das crianças de Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira, comunidades diretamente atingidas em janeiro de 2019.

Com a mobilização de 178 amigos, conseguimos adotar as cartas dessas crianças, realizando seus sonhos dentro do possível. Claro, alguns pedidos precisaram ser adaptados, como bonecas e bebês reborn, que me assustaram com o preço de R$ 1.500,00, ou o garoto que pediu um carrinho elétrico dirigível – nem me atrevi a pesquisar algo assim nas empresas do Elon Musk!

Uma das características mais marcantes dos motociclistas é o senso de irmandade, manifestado também na fraternidade e na solidariedade.

Mesmo em tempos desafiadores, muitos se dedicam voluntariamente a ações sociais, ajudando os mais necessitados com o coração cheio de amor ao próximo. 

Hoje, vemos pequenos Moto Grupos surgindo por toda parte, graças à facilidade de acesso a informações e produção de coletes personalizados.

Porém, sem registro, princípios, valores, estatutos e regras - tanto de convívio quanto de segurança -, muitos desses grupos acabam se limitando ao visual, sem engajamento em causas maiores. 

Conheço pessoas que viajam sozinhas, mas se unem a comboios durante o trajeto, saindo com novos amigos ao final da viagem, mas não se filiam.

Em 2017, meu amigo Américo Prates, presidente do CONEMOT (Conselho Nacional de Motociclistas), identificou cerca de 220 Moto Grupos e Moto Clubes na região de Belo Horizonte e Região Metropolitana de BH.

Apesar disso, o engajamento em iniciativas solidárias tem enfrentado desafios, com o ser humano cada vez mais indiferente e egoísta. 

Mesmo assim, continuamos com nossas ações. Em Brumadinho, realizamos três edições do Natal Solidário em Casa Branca (2020, 2021 e 2022).

Durante a pandemia, fomos criticados como “genocidas” por promover aglomerações, e nossas motos incomodavam algumas pessoas que nos vêm  como ”Toscos  Machistas tóxicos”.

Em 2023, fui surpreendido por um gesto emocionante. Garotos que participaram dos primeiros Natais (então com 10 a 15 anos) me ligaram em setembro pedindo para não fazermos o Natal no Córrego do Feijão.

Quando perguntei o motivo, me emocionei ao ouvir: “Nós não precisamos mais. Já temos muitas coisas. Vamos fazer lá nos Quilombos, eles ainda não têm nada.” 

Assim, organizamos o Primeiro Natal Solidário dos Quilombos de Brumadinho. Foram mais de 400 presentes para 329 crianças, além de um Motofest com bandas de rock, apresentações quilombolas e comidas e artesanato típicos das quatro comunidades.

Recebemos 1.200 pessoas em um dia que prometia chuva - mas Deus nos abençoou com tempo seco!
Essas iniciativas não acontecem apenas em Brumadinho.

Moto Grupos como o Pigs, liderado por Guilherme “Indiano”, são exemplos de mobilização solidária eficiente e continuada.

O Pigs Day, sempre em outubro, dedicado a ajudar crianças com câncer, reúne mais de 300 motociclistas que envolve seus familiares em um grande ato de amor ao próximo. Fica a dica para os presidentes dos Moto Grupos.

* Tunico Caldeira é publicitário, gestor cultural, professor e artista plástico

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