Riesa: uma vida pautada pela paixão ao motociclismo
Na coluna Na Garupa com o Tunico, crônicas sobre estradas, histórias e destinos mineiros. Uma visão pela alma e pelo coração do Tunico, sobre as experiências que se pode sentir sobre duas ou quatro rodas.

Hoje quem pega carona na minha garupa é minha grande amiga Riesa Senna. Neste mês de março, estou focando nas amigas motociclistas que fazem a diferença por onde passam.
É o caso da Riesa, com sua personalidade forte, decidida, batalhadora e bem-sucedida em tudo que faz. Ela consegue estar presente tanto como participante, se envolvendo profissionalmente, quanto como público consumidor qualificado desse universo motociclístico.
Por isso, ela se dá tão bem: temos um motor de alta cilindrada batendo no peito e, em nossas veias, um pouco de óleo de motor misturado ao sangue.
¼ de século em duas rodas
Habilitada para condução de motocicletas há 25 anos, Riesa é Assessora de Investimentos e também proprietária da empresa Bordadeira Criativa, onde cria e customiza roupas com motivos que agradam aos motociclistas. Ainda encontra tempo para trabalhar na Academia do Café, localizada na Rua Grão Pará, 1024, no bairro Funcionários, em Belo Horizonte.
São paixões que nos motivam e que não têm a menor explicação lógica. Nós dois escolhemos, dentre vários modelos da Harley-Davidson, a moto mais bonita e clássica: a Deluxe.
Cada um customizou sua máquina com dedicação, tempo e paciência, cuidando de cada detalhe de forma pessoal e intransferível. Ela optou pelo bege e marrom, mantendo o máximo de cromados possível e escolhendo um guidão perfeito para sua dirigibilidade.
Pensou em cada friso, na valorização do tanque e dos paralamas. Escolheu pneus de banda branca e retirou a grelha e o banco da garupa.
O início da jornada
Riesa se apaixonou por motos ainda na garupa de um namorado, mas, infelizmente, a paixão por ele não durou muito tempo.
Desde então, nunca mais subiu na garupa de ninguém, comprou sua própria moto, e para estar ao seu lado, é preferível que a pessoa também tenha uma moto.
Quando se customiza uma moto, o que mais dói, na verdade, é se dedicar por anos a uma customização e, com o passar do tempo, perceber que as motos ficam mais pesadas e o trânsito e as estradas se deterioram.
Este ano, ela se separou da sua Deluxe maravilhosa. Quando me desfiz da minha, a dor foi gigantesca também. Minha preta e branca, carinhosamente chamada de Audrey Hepburn, teve seu nome mudado pelo novo proprietário para "Malvadinha".
Vocês não imaginam o que isso causa na nossa alma, ver nossa ex-moto passando por isso. No caso da Riesa, foi pior: sua ex-moto, que não tinha nome, pois ela não tem esse hábito, virou uma "Chicana", com direito a um guidão conhecido como "Seca Suvaco". Putz, isso dói muito! Mas é a forma como o universo sabiamente nos ensina sobre desapego.
Hoje, ela se diverte nas estradas com uma Triumph Speed Master azul e preta, mais leve, mais ágil e muito confortável, permitindo que continue fazendo longas viagens. A que ficará para sempre em sua memória é a icônica jornada pela Rota 66, no trecho entre Los Angeles e Las Vegas.
Ela não faz parte de nenhum moto grupo, apesar de ter sido convidada por vários. No entanto, nunca viaja sozinha, pois sempre tem um amigo ou amiga que a convida para passeios curtos (bate e volta) ou longas viagens, inserida em seus grupos.
Mulheres pilotas
Riesa faz parte de um mundo feminino em transformação no Brasil, que cresce rapidamente: o das mulheres motociclistas.
Segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), o número de mulheres habilitadas na categoria A já ultrapassa 10 milhões – um aumento impressionante de 65,8% em dez anos.
Em 2015, eram 6.045.589 motociclistas mulheres; hoje, esse número saltou para 10.025.081, em um universo de 35 milhões de motocicletas em todo o território nacional.Mesmo com essa evolução, as mulheres ainda representam apenas 24,9% dos motociclistas habilitados, enquanto há 30.164.277 homens aptos a pilotar.
O maior número de habilitadas está na faixa etária de 31 a 40 anos, totalizando 3.505.664 mulheres. Outras faixas etárias também demonstram grande presença feminina no motociclismo:
• 41 a 50 anos: 2.355.200 mulheres habilitadas
• 26 a 30 anos: 1.550.041 mulheres habilitadas
De acordo com outra pesquisa da Senatran, divulgada em setembro de 2024, o Brasil possuía aproximadamente 34,2 milhões de motocicletas registradas.
Destes, cerca de 32,5 milhões estavam em nome de pessoas físicas. O estudo revelou que aproximadamente 17,5 milhões de proprietários desses veículos não possuem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) adequada para conduzi-los, o que representa 53,8% do total.
Assim, é possível que o número de mulheres pilotas seja muito maior. Na minha relação pessoal, sem muito esforço, listei 12 amigas que pilotam para cima e para baixo sem habilitação. Algumas estão até se esforçando para tirar a carteira.
O crescimento das mulheres no motociclismo é um reflexo de sua determinação, independência e paixão pelas duas rodas. Seja no dia a dia ou em aventuras na estrada, pilotar uma moto é muito mais do que um meio de transporte – é uma forma de expressão, liberdade e conquista.
Riesa prefere as estradas ao caos do trânsito de BH. Ela tem razão: é um ambiente hostil, onde a gentileza e a educação parecem ter sido esquecidas.
Quem esteve no último BH Classic Auto Fest, em agosto de 2024, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, pôde participar de um super evento.
Reunindo cerca de 600 veículos antigos, incluindo carros, caminhões e ônibus, a edição deste ano inaugurou a ala de Motos Clássicas.
A responsável por isso? Riesa! Um trabalho gigantesco que exigiu sensibilidade, articulação, credibilidade e muitos amigos para ajudar.
Tenho muito orgulho de tê-la como amiga e de conviver com sua bela família. Sei que posso contar com sua presença em todas as minhas maluquices.
* Tunico Caldeira é publicitário, gestor cultural, professor e artista plástico
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