O início da jornada

Na coluna Na Garupa com o Tunico, crônicas sobre estradas, histórias e destinos mineiros. Uma visão pela alma e pelo coração do Tunico, sobre as experiências que se pode sentir sobre duas ou quatro rodas.

Nov 18, 2024 - 10:21
Dez 13, 2024 - 13:59
O início da jornada

Hoje, gostaria de dividir com vocês um pouco do começo da minha jornada, um retrato de um jovem Tunico de 13 anos que resgatei em pensamentos nas últimas madrugadas, traçando suas lembranças em um desenho simples, feito com lápis preto de várias gramaturas.

Cada linha traz de volta recordações de um tempo diferente, um tempo em que esse jovem Tunico, determinado e cheio de ideais, se posicionava com firmeza.

Mesmo sem a impetuosidade típica da pré-adolescência, ele foi rompendo algumas barreiras familiares, sempre mantendo o respeito, o amor e o carinho pelos pais que tanto amava.

Por conta própria, ele explorou a cultura vegetariana, naturalista, macrobiótica e outras "maluquices" dos anos 70.

Além disso, enveredou por aventuras físicas, mentais e espirituais. Inspirado pelo seu ídolo Bruce Lee, conheceu a disciplina e o rigor das artes marciais. Influenciado por Krishnamurti, mergulhou em estudos profundos e conheceu o hinduísmo, o budismo tibetano e o taoísmo, até que anos mais tarde retornaria às suas raízes no cristianismo — a Jesus Cristo, Nossa Senhora, Santo Agostinho, São Bento, entre outros.

A cada traço no papel, embalado pelas referências sonoras de "Jesus Cristo Superstar" e "Hair", fui reencontrando esse jovem de coração puro, determinado, firme em seus valores e coerente em seus princípios.

Essas não são recordações ufanistas ou narcisistas, mas uma forma de agradecer intimamente à minha família e aos meus pais, que me educaram, me incentivaram a aprimorar minhas habilidades, meus dons, meus talentos e respeitaram minhas escolhas.

Mesmo nos momentos de maior confronto de ideias e de ideais, o respeito e o amor sempre prevaleceram. Hoje, aos 63 anos, olho para esse "pirralho" e, ao desenhá-lo, sinto orgulho de sua fé, de sua liberdade e das escolhas que fez - que eu fiz - ao longo da vida. Que eu possa continuar honrando o que ele começou, desafiando o mundo com a mesma coragem que ele teve aos 13 anos.

Mais tarde, aos 20 anos, tive uma conversa importante com meu pai. Falei que estava pensando em comprar uma motocicleta.

Ele, que já havia me ajudado a comprar um Fusca, o famoso "Pratinha", há alguns anos, ficou tenso: travou o corpo, franziu a testa e cruzou os braços, como se estivesse se protegendo da ideia.

Minha mãe, ausente da cena, ouviu da cozinha e logo sinalizou sua reprovação, pedindo a intercessão de Nossa Senhora Aparecida para tirar esse pensamento da minha cabeça.

Meu pai foi mais: “Você não espera que eu te ajude nessa irresponsabilidade, não é? O carro, quando você quiser trocar, eu ajudo.”

Respondi com calma: “O carro, eu aceito ajuda no futuro, já que ele é bem mais caro que uma moto. Mas a motocicleta que quero comprar dá pra eu pagar, ainda que leve tempo.

Vou conseguir.” A minha atitude e a firmeza no que eu dizia, aparentemente, deram mais orgulho ao meu pai do que seu medo pelas motos: ver que eu assumiria a compra e a responsabilidade sozinho o fez afastar-se resmungando: “Você sabe o que penso disso, mas se já decidiu, tome cuidado com a sua vida e com essa dívida.” Mesmo enquanto ele se afastava, e como o conhecia bem, pude imaginar sua expressão de satisfação e aprovação.

Minha mãe, por sua vez, iniciou uma novena a Nossa Senhora Aparecida, convocando todas as amigas para ajudá-la a tentar me demover da ideia. E eu, claro, participava das novenas para dar aquela força a elas!

Fui muito feliz com a moto e, acima de tudo, por ter conseguido cumprir com o compromisso financeiro — um grande desafio na época. No fundo, esses desafios nunca mudam.

* Tunico Caldeira é publicitário, gestor cultural, professor e artista plástico

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