Condomínios de Brumadinho

Na coluna Na Garupa com o Tunico, crônicas sobre estradas, histórias e destinos mineiros. Uma visão pela alma e pelo coração do Tunico, sobre as experiências que se pode sentir sobre duas ou quatro rodas.

Dez 20, 2024 - 14:22
Condomínios de Brumadinho

Em 1982, fui contratado para a produção de um comercial de 30” para um jeans fabricado em Contagem, onde eu precisava encontrar uma cachoeira para filmar um casal que tirava suas roupas e nadava, com o jeans em evidência nas pedras.

Saí à procura de cachoeiras lindas, mas cada uma apresentava problemas técnicos para o trabalho, como profundidade do fosso, áreas limitadas para a colocação da grua (guindaste usado para movimentos de subida e descida de câmera) ou treveling (plataforma móvel para cenas em movimento horizontal).

As cachoeiras que conhecia e considerava ótimas foram descartadas pelo meu olhar técnico de produção.

Um amigo, também produtor, sugeriu uma cachoeira em Casa Branca, dentro de um condomínio onde ele havia adquirido um lote recentemente: Aldeia da Cachoeira das Pedras. Pepe Quintero, que ótima indicação! Alguém que entendia as exigências do trabalho.

Naquela época, a referência de condomínio em Belo Horizonte era o Retiro das Pedras. Dizem que foi o primeiro condomínio horizontal do Brasil, e até mesmo da América Latina.

Era, e ainda é, um sonho de consumo para muitos. Curiosamente, sua localização é em Brumadinho, embora muitos pensem ser Nova Lima.

Para esclarecer: subindo a BR-040 e pegando a estrada de acesso ao condomínio, até a portaria você está em Nova Lima, mas, ao passar pela guarita, você já está em Brumadinho.

Realizamos o comercial, que foi um sucesso, e despertou em muitas pessoas o interesse pela cachoeira e pelo condomínio, ainda recém-lançado.

Na época, os primeiros compradores eram publicitários e psicólogos, graças à estratégia de marketing boca a boca.

Frequentei o condomínio diversas vezes e fiz mais duas produções audiovisuais usando as locações privilegiadas do lugar.

Durante esse período, comecei a sonhar em comprar um terreno ali, não apenas para finais de semana, mas para morar.

Meus amigos achavam loucura escolher um lugar que, na época, parecia tão inóspito e sem perspectivas de futuro.

Alguns chamavam Casa Branca de “Buraco”. Porém, em 1987, tudo mudou. Eu havia começado a namorar Carmelita após ter ficado viúvo aos 24 anos.

Essa perda transformou minha visão de tempo e a motocicleta tornou-se uma válvula de escape - embora perigosa, pois me levou a trilhas de terra, penhascos e desafios muito arriscados.

Com Carmelita, fiz diversas aventuras por lugares incríveis, e em setembro a levei primeiro ao Mirante dos Veados, no Rola Moça.

Depois, fomos a Casa Branca, até chegarmos à cachoeira do condomínio Aldeia da Cachoeira das Pedras.

Foi um passeio mágico, margeando o rio Catarina, passando por um bosque e subindo uma escada de pedras digna de um mosteiro chinês. 

Caminhamos ao lado de um muro que beirava um pequeno desfiladeiro, de onde víamos de cima o rio e suas quedas d’água, formando bolsões perfeitos para banho e relaxamento.

Quando finalmente chegamos à cachoeira, ficamos em silêncio, contemplando-a. Seu som, o cheiro da mata, as sensações de ver pedra, água, vegetação em harmonia. Poder agradecer a oportunidade de estar ali tão perto do Criador. 

Depois de horas, quebrei o silêncio e perguntei: “O que você acha?” Ela respondeu: “Este lugar é lindo. Ele não é para passar finais de semana; é para morar.”

Eu não havia dito nada sobre minha intenção de morar ali. Peguei um bloco de notas que sempre me acompanha, escrevi um bilhete e entreguei a ela: “Se você quiser uma relação estável para o resto de sua vida, escreva SIM e assine na linha abaixo .”

Compramos nosso terreno, ainda em setembro e nos casamos em 20 de dezembro de 1987. Exatamente na data de publicação desta crônica.

Essa é minha homenagem a ela, 37 anos depois. Estávamos certos ao escolher este lugar tão especial para construir nossos sonhos e nossas vidas.

Infelizmente, não tenho fotos para registrar esta época, pois eram feitas em filme e se perderam ou deterioraram pelo tempo. Mas nossas aventuras em duas rodas resistiram ao tempo e às mudanças em nossos corpos.

Na Pandemia de Covid 19 Casa Branca e a encosta da Serra da Moeda se mostraram uma excelente opção para moradia e muitas pessoas permaneceram por aqui.

Casa Branca: Região com 13 condomínios similares, caracterizados por residências em lotes amplos, cercadas pela natureza e boa infraestrutura, atraindo moradores em busca de tranquilidade e segurança. E estamos a apenas 30 km do BH Shopping.

Piedade do Paraopeba e Encosta da Serra da Moeda: Também possuem 13 condomínios, como Retiro das Pedras, Retiro do Chalé e Residencial Boa Vista, que oferecem lotes amplos e vistas privilegiadas da Serra da Moeda. São áreas que atraem moradores em busca de integração com a natureza.

Brumadinho Sede: Predominam bairros mais tradicionais, mas há registros de alguns condomínios horizontais voltados para quem prefere áreas verdes próximas ao centro urbano e seus serviços.

* Tunico Caldeira é publicitário, gestor cultural, professor e artista plástico

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