Memorial do Córrego do Feijão
Na coluna Na Garupa com o Tunico, crônicas sobre estradas, histórias e destinos mineiros. Uma visão pela alma e pelo coração do Tunico, sobre as experiências que se pode sentir sobre duas ou quatro rodas.

No dia 25 de janeiro foi inaugurado o Memorial do Córrego do Feijão, uma homenagem às 272 vítimas do rompimento da barragem B1 da Mina do Córrego do Feijão.
A cerimônia inicial foi restrita aos familiares, ao governador de Minas Gerais e àqueles que participaram das operações de resgate em 2019, como Bombeiros, Ministério Público e Defensoria Pública. No dia 29 de janeiro, o espaço foi oficialmente aberto ao público.
O rompimento da B1 foi o maior acidente de trabalho da história do Brasil em termos de perda de vidas humanas e um dos maiores desastres ambientais da mineração no país, superado apenas pelo desastre de Mariana, ocorrido três anos antes. Em resposta à tragédia, o governo de Minas Gerais decretou luto oficial permanente nesta data.
A inauguração reservada aos familiares representou não apenas um gesto de respeito, mas também uma resposta às demandas das vítimas, reforçando a luta contra o esquecimento.
Importância e Significado do Memorial
O projeto do memorial foi idealizado pelo arquiteto mineiro Gustavo Penna, vencedor de uma licitação internacional. Seu projeto foi escolhido após ser apresentado em vídeo para as famílias das vítimas, garantindo sua aprovação e representação no processo.
Mais do que um espaço de recordação, o memorial guarda restos mortais e segmentos corpóreos das vítimas, além de expor fotografias, dando identidade às vidas perdidas. A cor marrom predominante em todos os ambientes simboliza a relação com o solo e a tragédia.
A gestão do memorial é responsabilidade da Fundação Memorial de Brumadinho, uma instituição privada sem fins lucrativos, criada em 2023 por meio de um acordo entre o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a Vale e a Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum). Esse arranjo garantiu a participação dos atingidos na governança do espaço de memória.
Segundo a presidente da fundação, Fabíola Moulin Mendonça, o memorial é fundamental para honrar as vítimas e impedir que sejam reduzidas a meros números.
"Elas deixam de ser 272 vidas e passam a ser cada uma das pessoas que morreram no rompimento da barragem. Ao mesmo tempo, é um espaço que vai contar essa história sob a perspectiva dos familiares, tornando-se um lugar de identificação e reflexão para toda a sociedade."
A proposta do memorial nasceu em maio de 2019, quando familiares das vítimas protocolaram no Ministério Público um pedido para a criação de um parque em homenagem às vidas perdidas. Dessa mobilização surgiu também a Avabrum, que passou a representar formalmente os interesses dos atingidos.
Contexto Histórico e Reflexões sobre a Tragédia
O desastre de Brumadinho ocorreu em um período de fragilidade institucional e econômica. A crise financeira que atingiu o Brasil a partir de 2014 resultou na redução de investimentos em fiscalização ambiental.
O Ministério do Meio Ambiente sofreu cortes superiores a R$ 1,3 bilhão no orçamento, aumentando o risco de desastres ambientais. Em paralelo, Minas Gerais enfrentava uma crise fiscal severa, que levou à decretação de estado de calamidade financeira.
Esses fatores, porém, não isentam a Vale de sua responsabilidade. A negligência da empresa foi amplamente documentada, e investigações durante a CPI apontaram que cortes em segurança de barragens foram determinantes para a tragédia, assim como outros fatores.
O Parque Arqueológico: Uma Descoberta no Meio da Tragédia
Durante as obras do memorial, os trabalhadores descobriram um sítio arqueológico. Imediatamente arqueólogos foram chamados e resgataram 2.700 peças cerâmicas da época Pré-Colombiana que hoje se encontram no acervo da PUC-MG, não tenho mais informações.
Esse achado traz uma dimensão simbólica impressionante: enquanto a tragédia representou um soterramento de memórias e vidas, as escavações revelaram fragmentos de um passado remoto, ressignificando a história do local. É mais uma confirmação do Universo de que tudo passa.
O trabalho de preservação do acervo arqueológico trouxe desafios extras para a equipe responsável pela obra, que já enfrentava condições adversas, como chuvas intensas e pressão por prazos.
A entrada do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no processo exigiu um equilíbrio delicado entre preservação e os prazos de execução do projeto original, com os prazos, perante os comprometestes do Acordo de Reparação ao rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho - Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG) e Governo de Minas Gerais.
Apesar dos desafios, a dedicação dos profissionais envolvidos garantiu a proteção desse acervo, enriquecendo ainda mais o significado do Memorial de Brumadinho.
O Futuro do Memorial
O Memorial do Córrego do Feijão tem potencial para se tornar um destino de relevância mundial, atraindo turistas, pesquisadores e moto turistas de todas as partes do planeta.
Como destacou o arquiteto Gustavo Penna: "Em mais de 50 anos de trabalho, este foi o primeiro e único projeto que ficou 100% realizado da forma que foi idealizado e projetado."
Com o tempo, talvez o parque arqueológico possa ser integrado ao projeto, quem sabe, tornando o memorial ainda mais significativo e ampliando sua função educativa e histórica.
O importante é garantir que a memória da tragédia continue viva, servindo de alerta para que erros como esse jamais se repitam e protejam nossas futuras gerações.
* Tunico Caldeira é publicitário, gestor cultural, professor e artista plástico
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