Violeta de Outono: um mergulho nas profundezas do rock progressivo brasileiro

Violeta de Outono

Nov 25, 2024 - 10:07
Nov 25, 2024 - 10:15
Violeta de Outono: um mergulho nas profundezas do rock progressivo brasileiro
A capa, com elementos na cor violeta, remetendo ao nome da banda, já sinaliza o clima introspectivo e melancólico da obra

Há pouco mais de um ano tomei conhecimento deste álbum homônimo da banda paulista Violeta de Outono. Estava procurando no Youtube "Tomorrow Never Knows", dos Beatles, e eis que apareceu uma versão dela tocada pelo Violeta de Outono.

Ouvi e gostei muito e resolvi escutar o restante do álbum. Uma verdadeira pérola lançada em 1987 e que eu nunca tinha ouvido falar até então.

A banda surgiu no fim do regime militar, em 1985, e como uma violeta, floresceu aproveitando-se dos novos ventos trazidos pela redemocratização do país, apresentando uma sonoridade diferenciada, com elementos de rock progressivo e pós-punk, flertando ainda com pitadas de jazz, música clássica e até mesmo folk, criando uma atmosfera densa e envolvente ao longo das nove canções.

Dá para perceber que o Violeta de Outono bebe na fonte de bandas como Pink Floyd, Yes e King Crimson, mas sem se deixar engessar por essas referências. Repare como os teclados têm grande protagonismo, criando verdadeiras "paisagens sonoras".

A utilização de instrumentos acústicos e elementos eletrônicos adiciona camadas de profundidade e textura às composições. Neste ponto, destaco a instrumental "Sombras Flutuantes".

Lançado em 1987, é o principal trabalho da banda ao longo dos anos. Traz uma sequência de grandes músicas, como "Outono", "Declínio de Maio", "Dia Eterno", "Reflexo da Noite", "Noturno Deserto", "Faces" e logicamente, a versão de "Tomorrow Never Knows", que me fez chegar ao álbum.

Cito aqui um trecho de"Dia Eterno", que para mim, está entre as melhores músicas do álbum: 

Silêncio em mim
Espelhos planos
Saídas falsas, vôo, solidão
Só esperando
Vagando em seu olhar
Tudo é deserto, estranho lugar
Você sabe que não temos tempo
Dia eterno, noite escura adentro

O trabalho do Violeta de Outono neste álbum homônimo é espetacular em todos os sentidos, e além da sonoridade já destacada aqui, destacam-se também as letras introspectivas, carregadas de melancolia, psico-delia e reflexão, explorando temas como a natureza, a passagem do tempo, a existência humana e a busca por significado. Sem dúvida, um dos principais álbuns do rock brasileiro em todos os tempos e um clássico atemporal.

* João Gabriel Pinheiro Chagas é jornalista. E-mail: joaogabrielpcf@gmail.com

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